sábado, 27 de março de 2010

Prostituir! (o dinheiro também...)

Enquanto isso, na Tradição, a Grande Sacerdotisa chega ao dedicado recém aceito e o convida para uma conversa de Dedicador para Dedicado.

O postulante atende prontamente, com o orgulho ingênuo de ser convocado pela Mestra, entre todos os outros e vai.

Sentam-se à mesa de um café. Frente a frente. Sacerdotisa linda, esguia. Cabelos negros deslizando do alto da cabeça coroada, até a metade das costas, em volutas calmas e inebriantes. Olhos flamantes.

O dedicado, velho homem rico de posses, na meia idade. Imponente como um leão e de peito forte de touro, segregando ânsias de poder de conhecimento e prática da magia. Primeiro encontro após o ato solene de aceito na Tradição.

A noite era pouco cálida - Nut/Nix aveludada -, sem brilho das estrelas. Lilith velada, olhando pelas frestas...

- Mael, entoou solenemente a Sacerdotisa, você sabe por que o dinheiro não foge de você? Estendendo um olhar pretenso sábio na direção do discípulo.

O discípulo sempre fora um homem protegido pelas bênçãos de Vênus, na sua beleza máscula de olhos profundamente verdes com longos cílios loiros – Apolo nórdico - e pelas arrogâncias de Plutão que lhe facultava grandes e fortuitos quinhões de sorte no ouro e nos dinheiros e ainda com bons e produtivos olhares que Júpiter lhe dispensava.

- Não, não sei! responde ingênuo

- Porque você não corre atrás dele. Ele não tem medos de você!

Aquela sabedoria infinita, essa simplicidade da sabedoria, calou fundo no espírito do dedicado e mil amplitudes se abriram na sua mente.

Verdade, pensou ele, na rapidez eufórica dos que são capazes de concluir.

Olhou para aquela Sacerdotisa e encontrou nela a sapiência conclusiva e perene dos mestres. Acatou. Mastigou e deglutiu com prazer.

Antes que a ingenuidade eufórica dos que concluem e quedam satisfeitos com a primeira conclusão se estendesse mais do que deveria, admoestou a sábia, com a expressão úmida daqueles que sabem como influenciar:

- Ele não foge porque você não corre atrás dele, mas é preciso que você não o prostitua. Dê a ele o valor que ele tem! Nem mais, nem menos.

Divino! Pensou novamente o discípulo. Ele que sempre fora bafejado pelas sortes emitidas pelos deuses, jamais fora capaz de resguardar-se da gastança solta, perdulária e inconseqüente.

Era, a partir desse momento, um ser capaz de amadurecer, pois que já portava a essência desse novo conhecimento, mister que o executasse, imediatamente.

Anos depois, ambos, Sacerdotisa e então já iniciado, mais velhos e mais íntimos e mais companheiros e mais servis um ao outro, a mesma Sacerdotisa pede ao mesmo discípulo que lhe empreste um de seus cartões de crédito para que pudesse adquirir um bem, necessário naquele momento.

O Iniciado, perenemente magnânimo e protetor, cede, imediatamente, sentindo-se homem capaz de prover. De colaborar. De providenciar. De fazer. Não hesitou segundo.

Pronto. A compra fora feita e a Sacerdotisa já era munida de um bem incondicionalmente necessário.

O ressarcimento da dívida integral, foi acordado entre o provedor e a provida, seria dividido em parcelas para que a última não contraísse mais dificuldade financeiras do que já suportava.

A Sacerdotisa continua munida do seu bem e o iniciado jamais recebeu qualquer pagamento que lhe fora prometido.

Indagada, a Sacerdotisa olhou com os mesmos olhos escuros, cabelos de outra cor, lisos, escorrendo da sua calva descoroada e, virando-se contra ele, excomungou:

- Devo, não pago. Nego enquanto puder... e se retirou para as suas longas noitadas de álcool, sexo, vulgaridade, impudência e logros.

Premente se faz que voltemos aos prostitutos, às prostitutas e aos prostituídos: deixemos para os espectadores do filme concluir quem é a prostituição? Se o iniciado, se a Sacerdotisa ou se o dinheiro?

Um comentário:

  1. Oba tudo bem? Estou visitando aqui seu blog e também gostaria de convidá-lo a conhecer meu trabalho no blog Ecos em WWW.ECOSDOTELECOTECO.BLOGSPOT.COM . Sucesso aí e abração!!

    ResponderExcluir