Quando eu era menino bobo lá em Barbacena, naquela tradição onde a gente brincava de bruxaria, Jesus Cristo era chamado de Gisa, a Rainha do Deserto.
Um dos sacerdotes adorava contar e representar esta estória porque, na estória, Jesus Cristo era uma bichona e a representação da cena, claro, permitia a esse mesmo sacerdote ser a bichona que ele sempre foi – e esconde – dando toda a pinta que pudesse e mais um pouco. Toda gente ria muito, mesmo que toda gente já conhecesse a representação pela milionésima vez. Fazer o quê, não é?
Mas o mais legal da coisa é que a mãe do menino achava lindo! Derretia-se toda nos peitões de silicone na decrepitude do corpo de velha já muito passada da hora de desocupar espaço.
- Não é uma gracinha o meu menino? Ai, tchutchuquinho da mamãe! E dava dois puxões nas bochechas do menino.
- Porque você é, assim, tão orgulho da mamãe, mamãe vai te dar um carro novo e um cartão de crédito com um limitão bem grandão, tá, bebê?
E o menino ficava todo envaidecido, punha o queixo no ombro direito, juntava as duas mãos unidas pelos dedos indicadores, dobrava levemente a perna direita sobre a outra, girando o corpinho ora para direita, ora para esquerda, enquanto rodava o pezinho semi-erguido, tocando o chão só com a pontinha dos dedos.
Mas isso foi em tempo que já não consigo mais apagar do meu passado. Dar de ombros, não?
Eu nunca contei e muito menos representei esta estória. Minha mãe nunca me achou uma gracinha e nunca ganhei cartão de crédito. Isso muito me orgulha, Falo sério!
Mas paremos de falar desse passado – e eu me perdôo, um pouco – considerando que a hebetude ancestral dos ascendentes desse sacerdote e a parvoíce hereditária – agravada pela região geográfica de seu nascimento – são fatores que autorizam tais manifestações dessa idiotia cristalizada. Dele, claro. Não minha. A minha idiotia foi outra: eu tive que forçar risos e achar graça sempre, mesmo amarela, dessas bobagens.
E a bicha se descontrolava toda. Ficava só no cabelão! Girava. Levantava os bracinhos, sapateava nas botas de ponta de metal, estralava os dedinhos, baixava a espanhola e jogava a cabeça para trás e rodava como uma perua...
(Ai! que vergonha do meu passado!)
Embora somente lá, naquela Tradição, a coisa fosse tratada com essa demência, é corrente entre os pagãos ordinários uma espécie de raiva, de birra de Jesus Cristo. Você quer insultar um pagão? chame-o de cristão. Assim como os católicos fazem com os evangélicos; os kardecistas com os umbanditas e todos ou outros. Incluindo todos os vice e versas cabíveis.
Eu tive formação cristã evangélica também. Não neo-evangélica, mas presbiteriana. E, passada essa minha fantasia de bruxinho voador, com caldeirão onde se faz fogo dentro, eu chego a uma clara, límpida, cristalina acepção de Cristo. Foi um cara do caralho! (perdoem-me os cristãos ortodoxos, mas preferi usar uma expressão corrente, para mostrar a força e a contemporaneidade dele!)
Tomara mesmo que, passados três dias da sua crucificação pelos cristãos (ora, sim, claro, os cristãos mataram Cristo!) ele possa ressuscitar dos mortos, nesta páscoa e venha com toda a sua potência para que a sua sabedoria possa ser compreendida em extensão e altura, dizendo vaza de perto mim, ô galera do mal!
Aguardem as próximas postagens. Vamos tratar de umas pérolas dele... putz! Demais!
E umas que até os cristãos praticam exatamente o contrário!
E, salve uma sacerdotisa que disse, para um padre de uma tradição dessas de brincadeira:
ResponderExcluirA Deusa é Tudo, caro Padreco?
- Sim, minha senhora... a Deusa é tudo..
Então o que impede que ela seja Jesus Cristo, Virgem Maria e todos os cristãos soltos no planeta?
- (Glup)
(confesso que eu também me pus a meditar na questão)
grande mote para uma cena de reflexão! Será que o padreco sabe o que é tudo?
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